Impeachment de Dilma
Dilma Rousseff. Presidente da República. |
Passo a passo, a cronologia da crise do Brasil.
Todos nós brasileiros, e o mundo de uma forma geral, temos
acompanhado com bastante apreensão o desenrolar do processo de impeachment da
presidente Dilma Rousseff.
Resolvemos
fazer uma cronologia desde o pedido até esse exato momento, para tentar ajudar
o entendimento desse imbróglio político que nosso país se encontra.
Nosso
objetivo é mostrar os fatos do jeito que estão acontecendo, sem tomar partido
ou expressar nossa opinião sobre o assunto. Então vamos aos fatos:
Qualquer cidadão pode protocolar um pedido de
impeachment contra o presidente da república, mas, é necessária a
caracterização de um crime por parte do presidente que tenha relação com seu
mandato vigente.
Os crimes previstos em lei que podem
acarretar o impeachment são:
Art. 4º São crimes de responsabilidade os atos do
Presidente da República que atentarem contra a Constituição Federal, e,
especialmente, contra:
I - A existência da União:
II - O livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário e dos poderes constitucionais dos Estados;
III - O exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
IV - A segurança interna do país;
V - A probidade na administração;
VI - A lei orçamentária;
VII - A guarda e o legal emprego dos dinheiros públicos;
VIII - O cumprimento das decisões judiciárias (Constituição, artigo 89).
I - A existência da União:
II - O livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário e dos poderes constitucionais dos Estados;
III - O exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
IV - A segurança interna do país;
V - A probidade na administração;
VI - A lei orçamentária;
VII - A guarda e o legal emprego dos dinheiros públicos;
VIII - O cumprimento das decisões judiciárias (Constituição, artigo 89).
Eduardo Cunha. Presidente da Câmara. |
No dia 02 de dezembro de
2015 o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) acatou o pedido de
impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, encaminhado pelos advogados
Hélio Bicudo, Janaína Paschoal e Miguel Reale Júnior, evocando as pedaladas
fiscais do ano de 2014 apontadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
Além
das pedaladas, os autores do pedido dizem também que Dilma cometeu crime de
responsabilidade ao editar seis decretos autorizando despesas extras em um momento
de restrição fiscal e ao, suspostamente, repetir as pedaladas fiscais em 2015,
já no exercício do novo mandato.
A
presidente Dilma assinou esses decretos, não numerados, em 27 de julho e 20 de
agosto de 2015. Mesmo sabendo que a meta de superávit primário, (dinheiro
reservado para pagar os juros da dívida) não seria cumprida, autorizou o governo
a gastar R$ 2,5 bilhões a mais do que o previsto no Orçamento.
O governo rebate os argumentos, afirmando que
as contas do governo de 2015 ainda não foram apreciadas pelo TCU e pela
Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional e que, portanto, não se pode
falar na possibilidade de crime de responsabilidade.
Abaixo, um passo a passo dos acontecimentos até hoje.
Em
07 de outubro de 2015, O Tribunal de Contas da União (TCU), em uma decisão
inédita desde 1937, dá parecer contrário as pedaladas fiscais da gestão da
presidente Dilma Rousseff em 2014, abrindo caminho para que se instaure o
processo de impeachment contra ela.
15
de outubro de 2016, os advogados Hélio Bicudo, Janaína Paschoal e Miguel Reale
Júnior dão entrada em um pedido de impeachment contra a presidente Dilma
Rousseff.
Hélio Bicudo. Autor do pedido de impeachment. |
02
de dezembro de 2015, após aceita por Eduardo Cunha, a decisão foi publicada no Diário
da Câmara dos Deputados.
03
de dezembro de 2015, a denuncia foi lida no plenário da Câmara pelo
primeiro-secretário, deputado Beto Mansur (PRB-SP). O próximo passo é a análise
da denúncia por uma comissão especial, com representantes de todos os partidos,
proporcionalmente ao número de parlamentares de cada legenda.
08
de dezembro de 2015, após muita confusão, escolhida em uma chapa liderada pela
oposição para organizar a comissão que analisará o caso. Algumas horas depois,
uma ação do PC do B, partido da base aliada, levou o ministro do STF (Supremo
Tribunal Federa) Luiz Edson Fachin a proibir que a comissão especial fosse
instalada até que o plenário do STF analisasse o caso.
No
dia 16 de dezembro de 2015, o STF decidiu que a comissão formada pela oposição
era ilegal, e elaborou um novo rito do processo de
impeachment da presidente Dilma Rousseff, em resposta à ação do PCdoB que paralisou
o processo no último dia 08.
Os principais pontos do julgamento no STF foram a
formação da Comissão Especial da Câmara e a autonomia do Senado no
processo.
Ficou
decidido que a Comissão Especial da Câmara só poderia ser formada por deputados
indicados por líderes de partidos, inviabilizando quaisquer chapas avulsas, e
que a votação para escolha destes representantes deveria ser sempre aberta. A votação
secreta que elegeu a chapa de oposição se tornou invalida.
Ficou decidido também que o Senado tem poder e
autonomia para julgar ou arquivar o processo, mesmo depois de encaminhado pela
Câmara. Em outras palavras, a Câmara analisa se tem motivos para o processo de
impeachment, e envia ao Senado que julga ou arquiva o caso.
Quanto ao pedido do PC do B para ampliar as chances
de defesa da presidente Dilma, o STF decidiu que não havia necessidade de
defesa na atual altura do processo. O partido tentava com isso tornar ilegal o
procedimento por parte de Cunha.
Veja abaixo como votaram os ministros:
Ministro
|
Chapa
alternativa
|
Votação
secreta
|
Autonomia
do Senado
|
Defesa
prévia
|
Edson
Fachin
|
SIM
|
SIM
|
NÃO
|
NÃO
|
Roberto
Barroso
|
NÃO
|
NÃO
|
SIM
|
NÃO
|
Teori
Zavascki
|
NÃO
|
SIM
|
SIM
|
NÃO
|
Rosa
Weber
|
NÃO
|
NÃO
|
SIM
|
NÃO
|
Luiz
Fux
|
NÃO
|
NÃO
|
SIM
|
NÃO
|
Dias
Tóffoli
|
SIM
|
SIM
|
NÃO
|
NÃO
|
Cármen
Lúcia
|
NÃO
|
NÃO
|
SIM
|
NÃO
|
Gilmar
Mendes
|
SIM
|
SIM
|
NÃO
|
NÃO
|
Marco
Aurélio Mello
|
NÃO
|
NÃO
|
SIM
|
NÃO
|
Celso
de Mello
|
SIM
|
SIM
|
SIM
|
NÃO
|
Ricardo
Lewandowski
|
NÃO
|
NÃO
|
SIM
|
NÃO
|
RESULTADO
|
7 x
4
NÃO
|
6 x
5
NÃO
|
8 x
3
SIM
|
11 x
0 NÃO
|
Algumas divergências
surgiram entre os juízes do STF quanto ao assunto, por exemplo:
O ministro José Dias
Toffoli discordou da posição dos colegas e disse que seria uma “interferência”
do Supremo no Legislativo impedir candidaturas avulsas.
O presidente do Supremo,
Ricardo Lewandowski, rebateu. "Não é possível que um marciano caia de Marte
e se candidate. Não pode haver candidatura de fora do âmbito partidário".
Enfático, o ministro
Gilmar Mendes se aliou a Toffoli dizendo que haveria "manipulação" do
processo de impeachment se o Supremo vetasse candidaturas avulsas.
Para
Gilmar Mendes, a candidatura avulsa "vitaliza a democracia, porque permite
que eventualmente se escape do modelo oligárquico que se forma nos partidos
políticos, em todos os partidos políticos”.
A partir de então, o
rito de impeachment previsto pela Lei Nº 1.079/1950, passou a ser executado. Os líderes dos partidos
da Câmara indicaram os nomes para a comissão e, com 433 votos a favor e apenas
um contrário, em votação aberta, a lista foi aprovada. Comissão essa formada
por 65 deputados, que passaram a analisar e debater o pedido de impeachment, ouvir
os advogados que fizeram o pedido, colher a defesa de Dilma e emitir um parecer
que embasará a votação em plenário.
Conforme
definido pelo STF, as vagas da comissão foram dividas entre os partidos,
segundo o tamanho de suas bancadas na Câmara.
A composição é seguinte:
08 vagas cada: PT e PMDB
06 vagas: PSDB
05 vagas: PP
04 vagas cada: PSB, PR e PSD
03 vagas cada: DEM e PTB
02 vagas cada: PRB, PDT, SD, PSC e Pros
01 vaga cada: PTdoB, PPS, PCdoB, PSOL, PTN, PEN, PHS, PV,
PMB e Rede
Após
várias tratativas e acordos costurados, foi escolhido o presidente da comissão,
responsável por ditar e chefiar os trabalhos, e o relator, responsável por
analisar o pedido de impeachment e emitir um parecer. Parecer este que será
votado pelo colegiado antes de ir a plenário.
Vamos
conhecer um pouco desses dois personagens. São eles:
Presidente: Rogério Rosso (PSD-DF)
Rogério Rosso. Presidente da comissão de impeachment. |
Filiado
ao PMDB de 2005 a 2011, assumiu o governo do Distrito Federal em 2010, após ser
eleito pelos deputados distritais por causa do afastamento de José Roberto
Arruda. Rosso deixou a liderança do PSD na Câmara para cuidar do processo.
Embora seja próximo de Cunha, um dos principais porta-vozes do impeachment, tem
afirmado todo tempo que sua responsabilidade é com o povo brasileiro.
Oficialmente, seu partido, o PSD, faz parte da base aliada do governo. Suplente,
tomou posse como deputado federal por alguns dias em 2011 e se elegeu para um
mandato completo em 2014.
Relator: Jovair Arantes (PTB-GO)
Jovair Arantes. Relator do pedido de impeachment. |
Também aliado do presidente da Câmara, é visto como alguém que transita bem tanto ao lado do governo quanto ao lado da oposição, está em seu sexto mandato na Câmara. Antes do PTB, onde está desde 2003, foi filiado ao PMDB e ao PSDB. Tem afirmado que terá que agir como magistrado na relatoria do impeachment. É líder de seu partido, que faz parte da base aliada do governo, mesmo partido de Roberto Jefferson, que deflagrou o escândalo do mensalão em 2005.
Após a
denúncia ter sido acolhida pelo presidente da Câmara, e a comissão instalada, a
presidente Dilma foi notificada para se manifestar, tendo um prazo de dez
sessões da comissão para apresentar sua defesa. Após a presidente apresentar
sua defesa, a comissão especial terá até cinco sessões de prazo para apresentar
o seu parecer. O parecer deverá ser lido na íntegra no plenário e publicado no
Diário da Câmara. Cabe à comissão dizer se há elementos que permitam a abertura
de investigação pelo Senado contra a presidente
Quarenta
e oito horas depois de o parecer sobre a denúncia ser publicado, o documento
deverá ser incluído na "ordem do dia" da Câmara. Só então, ele será
votado, nominalmente, por 512 deputados (o presidente não vota). A abertura do
processo de impeachment será autorizada pela Câmara caso o pedido tenha pelo
menos dois terços dos votos da Câmara, ou 342 votos. Se não atingir este número
de votos o pedido de impeachment é arquivado.
Se a
Câmara decidir pela instauração do processo, o pedido será encaminhado ao
Senado. Ou seja, a Câmara decidirá se o processo deve ser ou não aberto, mas é
no Senado que ele será julgado, conforme decisão do STF.
Por
decisão também do STF, o afastamento temporário da presidente ocorre apenas se
o Senado autorizar a instalação do processo de impeachment.
A
abertura do processo no Senado deve ser decidida pelo voto da maioria simples
dos senadores, ou seja, por metade dos presentes mais um, desde que estejam
presente à sessão ao menos 41 dos 81 senadores. Não há um prazo estabelecido
para que isso ocorra.
Se o
Senado decidir pelo processo, Dilma fica afastada por até 180 dias para o
julgamento, assumindo o vice, Michel Temer. Caso o julgamento não ocorra dentro
dos 180 dias, a presidente reassume até a conclusão do julgamento. Caso seja afastada
temporariamente do cargo, a presidente tem seu salário reduzido pela metade e
deve deixar as residências oficiais em Brasília.
No
julgamento final, onde se decide pelo impeachment de Dilma ou não, serão
necessários os votos de dois terços dos senadores, ao menos 54. Esse julgamento
será comandado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal. Caso seja decretado
o impeachment, o vice, Michel Temer, ocuparia o cargo até o fim do mandato e Dilma
ficaria inelegível por oito anos.
Nesse
caso, do vice assumir, é indiferente se o impeachment ocorra na primeira ou na
segunda metade do mandato. Fernando Collor, por exemplo, foi afastado antes da
primeira metade do mandato presidencial e quem assumiu foi Itamar Franco.
Contudo,
se o vice também for alvo de um processo de impeachment, e ambos forem afastados
na primeira metade do mandato, será convocada uma nova eleição direta em até 90
dias. Se o afastamento dos dois ocorrer na segunda metade do mandato, o novo
mandatário é escolhido pelo Poder Legislativo.
Se for
considerado que a presidente não cometeu os chamados crimes de
responsabilidade, ela retoma suas funções imediatamente.
Últimos acontecimentos do processo de impeachment de Dilma
30 de
março de 2016, os autores do pedido de impeachment foram chamados a falar pelo
relator do processo, deputado Jovair Arantes (PTB-GO).
A
sessão da comissão especial do impeachment foi marcada por provocações e
bate-boca entre governistas e opositores.
Foram
ouvidos dois dos três autores do pedido de impeachment da presidente Dilma
Rousseff com base nas "pedaladas fiscais", os juristas Miguel Reale
Júnior e Janaína Paschoal.
Miguel Reale Júnior. Autor do pedido de impeachment. |
O
primeiro a falar foi Reale Jr. Nos 20 minutos de exposição, o jurista disse que
as pedaladas fiscais não eram um mero problema contábil e acusou o governo de
"falsidade ideológica" por não fazer o devido registro da dívida. O
jurista lembrou que as pedaladas começaram em 2014 e se estenderam para 2015.
Janaína Paschoal. Autora do pedido de impeachment. |
Janaína
Paschoal, segunda a falar, a advogada rebateu o argumento usado por Dilma nos
últimos dias, de que o processo do impeachment em curso é um golpe.
— Tenho
visto cartazes com os dizeres de que impeachment sem crime é golpe. Essa frase
é verdadeira. Acontece que estamos diante de um quadro em que sobram crimes de
responsabilidade. Para mim, vítima de golpe somos nós — disse Janaína.
31 de
março de 2016, o governo enviou para fazer a defesa de Dilma no colegiado os
ministros da Fazenda, Nelson Barbosa, e o professor de Direito Tributário da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Ricardo Ribeiro.
04 de abril
de 2016, o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, fez a defesa de Dilma
Rousseff na Comissão Especial da Câmara afirmando que a presidente só pode
sofrer impeachment por atos extremamente graves, que atentem contra a
Constituição e tenham sido praticados por ela intencionalmente.
Se
esses "pressupostos" não estiverem presentes, o pedido de impeachment
é tentativa de "golpe de Estado", disse.
O
ministro destacou ainda que o regime brasileiro não é parlamentarista, e por
isso o Congresso não poderia destituir o governo por "meros motivos
políticos".
Ele
falou por cerca de uma hora e quarenta minutos e concluiu a defesa contra as
acusações de crime de responsabilidade na gestão fiscal dizendo que impeachment
por "pedaladas fiscais" golpeia a Constituição.
06 de
abril de 2016, o relator da comissão especial do impeachment da Câmara dos
Deputados, Jovair Arantes (PTB-GO), apresentou parecer favorável à abertura do
processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff.
A
leitura do parecer, de 128 páginas, levou quase cinco horas e terminou às
20h44. Concluída a leitura, deputados favoráveis ao afastamento de Dilma
levantaram cartazes com os dizeres “Impeachment já” enquanto parlamentares
contrários portavam cartazes com a inscrição “Impeachment sem crime é golpe”.
Os parlamentares pró-impeachment cantaram o Hino Nacional enquanto os
governistas gritavam: “Golpistas, golpistas!”
Na
conclusão do parecer, Jovair Arantes diz que a denúncia, de autoria dos
juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Junior e Janaina Paschoal, preenchem
"todas as condições jurídicas e políticas" para ser aceita. No
parecer, o relator avalia somente a "admissibilidade" do processo,
isto é, se reúne os requisitos mínimos para ser instaurado. Na hipótese de o
plenário da Câmara aprovar a abertura do processo, o julgamento do impeachment
será feito posteriormente pelo Senado.
08 de
abril de 2016, após mais de 12 horas, a Comissão Especial da Câmara dos
Deputados encerra a discussão de impeachment da presidente Dilma Rousseff na
madrugada de sábado, 09 de abril. Dos 159 inscritos, 61 fizeram suas exposições
sobre a legalidade ou não dos argumentos contidos na denúncia em sessão
iniciada na sexta (8), por volta das 16h30, e finalizada às 4h43.
Essa é
a cronologia do impeachment de Dilma, até encerrar esta postagem, em 09/04/2016.
Iremos atualizando a medida que os fatos forem acontecendo.
Iremos atualizando a medida que os fatos forem acontecendo.
Vou acompanhando com apreensão o que decorre no Brasil.
ResponderExcluirObd pela publicação deste artigo.
Obrigado querida, todos estamos apreensivos com essa situação.
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