Crise da saúde no rio de Janeiro

Crise da saúde no rio de Janeiro



       É grave a crise nos hospitais públicos no Estado do rio de Janeiro. No Brasil de uma forma em geral, mas no Rio a situação chegou a um ponto insuportável. Enquanto assistimos a denuncias atrás de denuncias de corrupção em todas as esferas políticas do país, nossa saúde morre com o descaso.
         Uma técnica de enfermagem de 35 anos morreu após procurar atendimento no hospital em que trabalhava em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Parentes e amigos afirmam que ela foi vítima de descaso e omissão de socorro. Em gravação, a própria técnica de enfermagem conta que o médico que a atendeu tratou seu caso como "frescura". Casada, mãe de dois filhos, morreu na fila de espera em uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento).
Os amigos de uma diarista de 37 anos denunciam que ela morreu por falta de atendimento. Segundo eles, a vítima começou a passar mal e foi levada para a unidade de saúde. Porém, eles dizem que uma enfermeira não deixou que a mulher e os acompanhantes entrassem no local. "Nós fomos barradas pela enfermeira que estava de plantão. Ela disse que a gente não poderia passar, que ela havia recebido ordens de não deixar ninguém entrar, por que não havia médico no hospital". Contou uma amiga da vitima.
         Referência no atendimento de emergência na Baixada Fluminense, região pobre na periferia do Rio, o Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, distrito de Duque de Caxias, fechou na madrugada desta terça-feira, 22/12, para pacientes que não estejam em estado grave. A medida foi tomada por causa da crise econômica que atinge o Estado do Rio e que tem afetado o repasse de verbas para hospitais da rede de saúde estadual. Funcionários estão com salários atrasados e faltam medicamentos. A emergência para casos graves continua funcionando normalmente, assim como as internações.
O governo do Estado não esclareceu de quem foi a decisão de fechar o hospital, se da Secretaria Estadual de Saúde, se da direção da unidade ou se de funcionários inconformados com as precárias condições de atendimento.

De acordo com a secretaria, em mensagem eletrônica enviada ao jornal O Estado de S.Paulo, o “Hospital Estadual Adão Pereira Nunes está aberto", mas "o atendimento está restrito aos casos mais graves". "É importante deixar claro que os pacientes internados permanecem recebendo assistência médica", informa a secretaria.

Um pedreiro de 37 anos foi um dos pacientes que não conseguiu atendimento nesta manhã. Ele estava com febre e mal estar. "Meu corpo dói muito e não sei o que tenho. Estou assim desde domingo e agora não consigo nem andar. A atendente do hospital me disse que eles não têm condições de me atender. Vou ter que voltar para casa”, disse, sentado no chão, ao lado da entrada fechada da emergência.

Funcionários do hospital entregaram um papel para os jornalistas que estavam no local em que relataram faltar remédios básicos, como o analgésico Dipirona e remédios para pressão arterial. Contaram ainda que só havia duas caixas de luvas para cada setor da unidade. "Está um caos", escreveram.

Uma grávida de quatro meses, de 35 anos, foi orientada pelo hospital a comprar medicamentos que, segundo ela, costumavam ser dados pela unidade. "Também disseram que não poderiam fazer exames, que era para procurar outra unidade", lamentou. Segundo ela, vários pacientes estão em macas, aglomerados.
Diretores do Hospital Estadual Albert Schweitzer, em Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro, registraram boletim de ocorrência na 33.ª Delegacia de Polícia informando que não têm condições de atender pacientes. Médicos e enfermeiros estão com salários atrasados. Também faltam insumos. De acordo com funcionários da instituição, metade dos leitos foi fechada. A decisão dos médicos de registrar na delegacia a impossibilidade de atendimento é uma das faces da crise financeira por que passa o Estado. A dívida com fornecedores, só na Saúde, chega a R$ 1 bilhão, desde o início do ano. Quinze Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), operadas pelo governo estadual, também estão funcionando precariamente.
O Hospital Albert Schweitzer é referência para poli traumatizados na zona oeste da cidade, com 500 leitos e 4,2 mil funcionários. Ali, funciona uma maternidade para grávidas de alto risco. Nesta segunda-feira, 21, pacientes foram orientados a procurarem unidades municipais, como o Hospital Miguel Couto, na zona sul, a 46 quilômetros, e o Hospital Souza Aguiar, no Centro, a 38 quilômetros. Somente os que estavam em estado grave foram admitidos. A triagem foi feita muitas vezes do lado de fora do Albert Schweitzer. Houve casos em que as enfermeiras foram até o carro para medir a pressão e encaminhar o doente para outra instituição. Uma das UTIs estava lacrada por cadeado; 40 leitos desses estão fechados.
Cerca de 100 profissionais de saúde do Hospital Estadual Rocha Faria, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, se manifestaram em frente ao local na manhã desta segunda-feira (21), por volta das 9h30. O ato cobrava o pagamento dos salários atrasados e do 13º salário.
A Secretaria de Estado da Fazenda informou, em nota, que os repasses serão liberados o mais rapidamente possível, a depender da disponibilidade de recursos em caixa.

Na nota, a secretaria diz ainda: "Infelizmente, o Estado do Rio de Janeiro está atravessando uma grave crise financeira, provocada pela forte desaceleração da economia brasileira, o preço do petróleo e a crise do setor de óleo e gás. A receita de ICMS e royalties tem despencado em 2015 e será cerca de R$ 12 bilhões inferior ao que era esperado. Todos os esforços estão sendo canalizados para que novos recursos entrem no caixa do Estado para repasses a Saúde, mas ainda não há recursos disponíveis".
Além da falta de insumos básicos, como fios de sutura e antibióticos, funcionários do Getúlio Vargas flagraram até ratos nas lixeiras. Segundo o Cremerj, a falta de pagamento dos fornecedores tem suspendido serviços essenciais, como higiene e limpeza e, até, nutrição — a pediatria do Getúlio Vargas, por exemplo, ameaça cancelar cirurgias por falta de comida.
Na Zona Sul, médicos e enfermeiros do Instituto de Cardiologia Aloysio de Castro, no Humaitá, tiveram que almoçar na última terça em um Batalhão da PM, devido à greve dos terceirizados. Em São Gonçalo, uma reunião de emergência foi convocada para tratar da crise. “Nossas unidades estão atendendo acima da capacidade há quatro meses. Não temos condições de assumir o atendimento”, diz o secretário de Saúde.
Além dos hospitais, as Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) também estão em seu leito de morte: sem dinheiro, elas deixaram de atender casos de baixa e média gravidade na Tijuca e Campinho, na Zona Norte, e na Taquara, em Jacarepaguá.
Enquanto isso a roubalheira continua solta. O Ministério Público do Rio (MP-RJ) tem indícios de que a organização social Biotech, suspeita de fraudar mais de R$ 48 milhões destinados a hospitais públicos do Rio, teria o contrato com a Prefeitura do Rio renovado em 2016. Como mostrou com exclusividade o Bom Dia Rio nesta segunda-feira (14), há suspeitas de facilitação do esquema por parte de funcionários da administração municipal.
Uma operação prendeu oito pessoas na quarta-feira (2). Entre eles, estão dois irmãos sócios da Biotech, que viviam uma vida de luxo, supostamente desviando dinheiro de hospitais públicos. Muitos bebês podem ter morrido por falta de material em UTIs, como revelam escutas telefônicas.
A Secretaria Municipal de Saúde diz que foi rigorosa na fiscalização e que planejava tirar a Biotech da administração dos hospitais, mas os promotores têm indícios para acreditar que o contrato seria renovado.








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