100
ANOS DO MASSACRE DOS ARMÊNIOS
Dia 24 de abril de 2015 completou 100 anos do chamado massacre dos
armênios, ou genocídio dos armênios, conforme palavras do próprio Papa. Deu-se
esse nome à matança e deportação forçada de aproximadamente um milhão de
pessoas de origem armênia que viviam no Império Otomano. A intenção era acabar
com a vida familiar, econômica e cultural deles, durante o governo dos chamados
Jovens turcos, de 1915 a 1917.
Outros grupos étnicos também foram massacrados pelo Império
Otomano durante esse período, entre eles os assírios e os gregos de Ponto. Alguns historiadores consideram
que esses atos são parte da mesma política de extermínio.
Está firmemente estabelecido
que foi um genocídio. É o segundo mais estudado evento desse tipo, depois do Holocausto dos judeus na Segunda Guerra Mundial.
O governo turco rejeita o
termo genocídio organizado e nega que as mortes tenham sido
intencionais. Quase cem anos depois, ainda persiste a polêmica.
Sob domínio Turco desde o século XV, a ideia de independência
entre os armênios crescia. Com isso, o
império começou, em 1909, com um massacre que matou
20 mil armênios.
Além disso, durante a Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano estava recrutando soldados
para a guerra. Muitas minorias étnicas eram contra o recrutamento, inclusive os
próprios armênios. Com isso, em abril de 1915, o governo turco reuniu 250
líderes da comunidade armênia no império, sendo que alguns foram deportados e
outros executados.
Embora as reformas de 8 de fevereiro de 1914 não satisfizessem as exigências do povo
armênio, pelo menos abriam o caminho para realizar o ideal pelo que havia
lutado durante gerações, com sacrifício de inúmeros mártires. "Uma Armênia autônoma dentro das
fronteiras do Império Otomano", era o anseio do povo armênio. Um mês mais
tarde, em 28 de julho, começava a Primeira Guerra Mundial. Esse conflito teve um resultado trágico, pois
deu oportunidade ao movimento político dos Jovens Turcos de realizar seu
premeditado projeto de aniquilação do povo armênio.
Em 25 de fevereiro de 1915, O Ministro de exército turco, enviou uma ordem
para que todas as unidades militares armênias
nas forças otomanas fossem desmobilizadas, desarmadas e transferidas aos
batalhões de trabalho, explicando esta decisão como " medo que os armênios colaborassem com os
russos".
Como
tradição, o exército regular otomano, quando composto por não muçulmanos,
reunia homens com idade de 20 a 45 anos. Os soldados não muçulmanos mais jovens
(15-20) e mais velhos (45-60) sempre atuavam no apoio logístico através dos
batalhões de trabalho. Antes de Fevereiro, alguns dos recrutas armênios foram
utilizados como trabalhadores sendo, por fim, executados.
Transferindo recrutas armênios do serviço ativo para o setor
de logística era um aspecto importante do genocídio subsequente. Conforme
relatado em "As Memórias de Naim Bey", o extermínio dos armênios
nesses batalhões era parte de uma estratégia premeditada em nome do Comitê para a União
e o Progresso. Muitos desses recrutas
armênios foram executados por grupos turcos locais.
Em 19 de abril de 1915, Jevdet Bey exigiu que a cidade de Van entregasse de imediato
4.000 soldados sob o pretexto de
recrutamento. No entanto, ficou claro para a população armênia que seu objetivo
era massacrar os homens capazes de Van, de modo que não deixar-lhe defensores.
Jevdet Bey já tinha usado uma ordem oficial por escrito em aldeias próximas, ostensivamente
para procurar armas, mas de fato para iniciar massacres. Para ganharem tempo,
os armênios ofereceram 500 soldados e dinheiro para isentar o restante do
serviço. Jevdet acusou armênios de rebelião e afirmou sua determinação de
esmagá-los a qualquer custo.
Em 20 de abril de 1915, o conflito começou quando uma mulher
armênia foi perseguida e dois homens armênios que vieram em seu auxílio foram
mortos por soldados otomanos. Os defensores armênios protegeram 30.000
residentes e 15.000 refugiados em
uma área de cerca de um quilômetro quadrado do bairro armênio e subúrbio de
Aigestan com 1.500 fuzileiros armados com 300 fuzis, pistolas e 1.000 armas
antigas. O conflito durou até que o general russo Nikolai Yudenich viesse resgatá-los.13
De Alepo e Van relatos semelhantes
chegaram ao embaixador estadunidense Henry Morgenthau, levando-o a levantar a questão pessoalmente com
Talaat e Enver. Ao citar os testemunhos de funcionários seu consulado, eles justificaram as deportações como
necessárias para a condução da guerra, sugerindo que a cumplicidade dos
armênios de Van com as forças russas que haviam tomado a cidade justificou a
perseguição de todos os armênios.
Na noite de 24 de abril de 1915 (o Domingo vermelho) foram aprisionados em Constantinopla
mais de seiscentos intelectuais, políticos, escritores, religiosos e
profissionais armênios, que foram levados a força ao interior do país e
selvagemente assassinados.
Para justificar esses crimes o Império preparou um material de
propaganda em Constantinopla com declarações como estas: “ Os armênios estão em
conluio com o inimigo. Vão lançar um levante em Istambul. Vão matar o comitê de
líderes da União e Progresso.”
Vários depoimentos de
armênios infiltrados e de soldados do exercito turco, narram como 5.000
armenios foram queimados.
O tenente Hasan Maruf, do exército otomano, descreve como os
habitantes de uma aldeia foram reunidos e depois queimados.19 O
depoimento de 12 páginas de Wehib Pasha, comandante do Terceiro Exército,
datado de 5 de dezembro de 1918, foi apresentado nos julgamentos de Trebizonda (29
de março de 1919) incluiu na acusação,20 relatando a queima em
massa da população inteira de uma aldeia perto Muş.
O cônsul americano em Trebizonda,
relatou: "Muitas crianças foram
colocadas em barcos, levadas e jogadas ao mar". 22 O cônsul italiano de Trebizonda, em 1915, Giacomo Gorrini, escreve: "Vi milhares de mulheres e crianças inocentes
colocadas em barcos emborcados no Mar Negro".
Durante o julgamento em Trebizonda, o
inspetor dos serviços de saúde Dr. Fuad Ziya escreveu em um relatório que o Dr.
Saib causou a morte de crianças com injeções de morfina.
Dr. Fuad Ziya e Dr. Adnan,
diretores de serviços da saúde pública de Trebizonda, apresentaram relatos de
casos em que dois prédios escolares foram usados para organizar crianças e
enviá-los para o mezanino e matá-las com equipamentos de gás tóxico.
O cirurgião otomano, Dr. Haydar Cemal escreveu: “quando a propagação do tifo era um problema agudo, armênios
inocentes previstos para deportação em foram inoculados com sangue
de pacientes com febre tifoide . Jeremy
Hugh Baron escreveu: "Os médicos
foram diretamente envolvidos nos massacres, envenenado bebês e fornecendo atestados de óbito falsos indicando morte por causas
naturais para crianças.
Em 29 de maio de 1915,
o Comitê para a União e o
Progresso aprovou a Lei temporária de
deportação (Lei
Tehcir), dando ao governo e militares otomanos autorização para deportar aqueles vistos como uma ameaça à
segurança nacional A Lei
Tehcir trouxe algumas medidas relativas à propriedade dos
deportados, mas em setembro uma nova lei foi proposta. Por meio da "Lei
sobre propriedades e bens abandonados por deportados" (também conhecida
como a "lei temporária sobre expropriação e confisco"), o governo
otomano tomou posse de todos as propriedades e bens armênios
"abandonados".
Nos Estados
Unidos, o jornal The New York Times relatou quase diariamente sobre o assassinato em massa do povo armênio, descrevendo o processo como
"sistemático", "autorizado" e "organizado pelo
governo". Mais tarde, Theodore Roosevelt caracterizou este como "o maior crime da guerra".
Os armênios foram levados para
a cidade síria de Deir ez-Zor . Evidências sugerem que o
governo otomano não forneceu quaisquer instalações ou suprimentos.
Em agosto de 1915, o New York
Times repetiu um relatório em que "nas estradas e no Eufrates estão espalhados os cadáveres dos exilados, e
os que sobrevivem estão condenadas a uma morte certa. É um plano para
exterminar todo o povo armênio “.
Tropas
otomanas escoltando os armênios não só permitiam roubos estupros e assassinatos de
armênios, como muitas vezes participaram elas próprias destes atos. Privados de
seus pertences e marchando para o deserto, centenas de milhares de armênios
morreram.
Engenheiros
alemães e trabalhadores envolvidos na construção da estrada de
ferro também testemunharam armênios
sendo amontoados em vagões de gado e enviados ao longo da linha férrea. Franz Gunther, um
representante do Deutsche Bank, que financiou a construção da ferrovia de Bagdá, enviou fotografias para seus diretores e expressou sua frustração por ter de
permanecer em silêncio em meio a "crueldade bestial".
Acredita-se que 25 grandes campos de extermínio existiram sob o comando de Şükrü Kaya, um dos maiores colaboradores de Mehmed Talat. A
maioria dos campos situava-se perto das modernas fronteiras entre Turquia, Síria e Iraque. Alguns foram apenas campos de trânsito temporários. Outros como Radjo,
Katma, e Azaz, podem ter sido usados apenas temporariamente, para valas comuns;
estes sítios foram revogados por volta do outono de 1915. Alguns autores também
afirmam que os campos de Lale, Tefridje, Dipsi, Del-El, e AL-'Ayn Ra foram
construídos especificamente para aqueles que tinham uma expectativa de vida de
alguns dias.
Muitas
coisas ainda precisam ser ditas. Até hoje os turcos negam que houve genocídio.
Uma curiosidade :
A Bande de rock System of a Down, de origem
Armênia, (da formação original dois nasceram no Líbano, dois nasceram na
Califórnia, e um na Armênia), fazem seu primeiro show no país. O show é
significativo porque a banda tem um histórico de lutas pelo reconhecimento do
fato histórico, especialmente por parte da Turquia, país sucessor do Império
Otomano, que perpetrou o massacre.
“Nos foi dada a
oportunidade de tocar na Armênia pela primeira vez”, disse Serj Tankian,
vocalista do System, recentemente à revista Spin, “e usar a oportunidade para
educar as pessoas sobre a atrocidade, sobre a vergonhosa negação da Turquia, e
a necessidade de obter justiça pelos crimes passados. Os julgamentos de
Nuremberg, a Convenção do Genocídio da ONU e comitês de ação política ao redor
do mundo não foram suficientes para parar o genocídio na nossa geração. Há
muito trabalho a ser feito”.
Comentários
Postar um comentário